O Vale do Silício atrai profissionais do mundo inteiro. Diversos esforços são realizados para integrar os imigrantes na comunidade e melhorar o potencial da região para competir globalmente. Mas a criação de empregos e oportunidades trazem desafios que impactam significativamente a qualidade de vida dos residentes.
Os principais problemas do Vale do Silício
Aumento da população
A população das cidades que compões o Vale têm crescido em torno de 1.1% ao ano desde 2011, o que corresponde a uma média de 34 mil pessoas por ano. Em Janeiro de 2016 a população do Vale do Silício atingiu a marca de 3 milhões de habitantes. A maioria destas pessoas vem em busca de oportunidades de emprego e com o intuito de desenvolver novas ideias, produtos e serviços.
O Vale do Silício vive de tecnologia? Não. Não é bem assim, existe uma série de negócios e estes negócios utilizam a tecnologia de alguma forma, então muitas pessoas trabalham em empresas de tecnologia em diferentes áreas, como business, finanças, vendas, contabilidade entre tantas outras profissões, assim como existem desenvolvedores que trabalham em uma empresa de finanças devolvendo um software ou aplicativo para a companhia por exemplo.
Como a região é mundialmente conhecida pelas empresas de tecnologia e muitas startups precisam de profissionais desta área, sem dúvidas as pessoas com formação e experiência na área de tech, ciências, engenharia tem um certo privilégio. A demanda por estes profissionais é imensa, existem muitas oportunidades de emprego e a remuneração é excelente, por isto muitos estrangeiros mudam a região. Muitos inclusive, trazendo a família, cachorro, gato, papagaio.
Salários exorbitantes
Desde quando ganhar um bom salário é um problema, não é mesmo? O salário exorbitante se torna um problema quando todo mundo ganha bem, menos você. Como oferta de empregos é maior que a demanda não, para atrair os melhores talentos são oferecidos ótimos salários, além de outras regalias. Muitas pessoas largam suas profissões, estudam novamente, fazem uma especialização e tentam de alguma forma conseguir um emprego em uma empresa de tecnologia.
O número de estudantes que se graduaram em ciências e engenharia no Vale do Silício tem aumentado todos os anos. Em 2014, foram mais de 14 mil formandos nas universidades tops da região, 538 pessoas a mais que no ano anterior. O número subiu 27% se comparado com a última década.
A média de salário é definida como tier 1 – quando a pessoa é super qualificada, tier 2, quando tem uma qualificação mediana e tier 3, quando a qualificação é baixa. Os salários no Vale do Silício para o tier 1 são de $121,638, para o tier 2 de $53,685 e para o tier 3 de $26,624. A Califórnia em geral, paga uma média de $87,422 para um profisssional super qualificado, enquanto nos Estados Unidos uma pessoa super qualificada recebe em média $74,901. Resumindo, um profissional menos qualificado recebe em média 30 mil dólares e um com qualificação mediana menos de 60 mil dólares de salário anual em uma cidade como San Francisco de acordo com os dados do escritório de analises econômicas dos Estados Unidos – U.S. Bureau of Economic Analysis.
Conhecendo estes dados dá para entender porque muitos moradores não estão satisfeitos com o boom da tecnologia. Estes profissionais não estão tirando o emprego de ninguém, mas estão impactando seriamente a qualidade de vida dos residentes. Veja alguns exemplos:
Moradia
Quanto mais a população aumenta maior a procura por moradia/ acomodação e mais caro os imóveis ficam. Para se ter uma ideia, o preço médio para se comprar uma casa em uma das cidades do Vale em 2015 foi de $830 mil dólares, 6% a mais que em 2014. Note que não estamos falando em uma mansão como nos anúncios de imóveis de Miami, no Vale este valor é para uma casa simples de 2 quartos em uma região nos arredores das principais cidades, porque o mesmo imóvel é no mínimo o triplo do valor onde concentram-se as empresas de tecnologia. San Francisco já passou de caríssimo para inviável, qualquer estúdio em um prédio velho, custa mais de 900 mil dólares.
A cidade de Palo Alto está procurando soluções para famílias que desejam comprar uma casa, mas não estão entre os super ricos e oferecem um subsídio para ajudar casais que juntos fazem menos de $250 mil dólares ao ano. Já pensou?
Enquanto alguns precisam de ajuda para adquirir um imóvel, Mark Zucherberg pagou $30 milhões para comprar 4 casas ao redor da dele, só para que os vizinhos não pudessem espiar na janela.
Quem pode paga, quem não pode saí fora. E numa espécie de efeito dominó, todas as cidades da Bay Area estão sub-valorizadas.
Imagine que nós brasileiros precisamos pensar em reais, construir o crédito e ainda pagar juros de financiamentos :/
Uma prática comum também é o reajuste do aluguel, ao final do contrato de um ano os aumentos no aluguel podem chegar até 20% em determinados lugares, obrigando muitas famílias a mudar todos os anos. A rotatividade é imensa. Os alugueis tem aumentado em torno de 8% por ano. E mesmo quem ganha bem, se não quiser deixar o salário no aluguel, precisa morar longe do trabalho e depender do metrô todos os dias e inclusive do carro ou bicicleta para chegar até o transporte público.
Transporte
Os San Franciscanos costumam dizer que tudo que eles não precisam é de outro carro rodando pelas ruas da cidade. Se você não morar próximo a sua empresa, e não tiver sorte de ter um ônibus com internet providenciado pela companhia para ir ao trabalho. O Bart/ Caltrain ou carro vai fazer parte da sua rotina.
Se você precisar encarar uma viagem de carro entre a East Bay e San Francisco, San Francisco e o Vale do Silício entre 7am e 10am ou 4pm e 7pm prepare para enfrentar pelo menos 2 horas de trânsito por trecho se não houver acidentes. Lembre-se dos custos de pedágio e espero que você não precise estacionar em San Francisco, porque além de ter vagas limitadas os valores chegam a $20 cada 15 minutos!
Melhor pegar o transporte público? Prepare-se para pegar os trens lotados, chegar atrasado e adicione pelo menos $10 por dia com transporte ao seu custo de vida.
A região conta com o sistema de carpool que quando 2 ou mais pessoas estão ocupando o mesmo carro nos horários de pico, podem utilizar uma pista específica que torna o trajeto mais rápido, além de pagar um valor reduzido no pedágio. Para incentivar o uso do carpool, existem alguns pontos específicos para de carona. O objetivo é que pessoas com um destino em comum possam utilizar o mesmo carro e desta forma, tenham menos veículos circulando nas rodovias.
Mas com o aumento da população o trânsito está cada vez pior e o tempo do trajeto de casa ao trabalho que era uma média de 30 minutos para a maioria das pessoas, aumentou 14% na última década. De acordo com pesquisas cada pessoa do Vale perdeu pelo mínimo 67 horas por ano devido aos atrasos com transporte.
Desigualdade
37,4% dos residentes do Vale do Silício são de outros países, enquanto na Califórnia este número é 27,1% e nos Estados Unidos 13,3%. Nos Estados Unidos dois profissionais na mesma função podem receber salários bem distintos e esta diferença entre o que mais e que o que menos ganha pode chegar a $43 mil dólares no caso dos estrangeiros no Vale do Silício.
Em 2014, 400 mil destes estrangeiros eram Hispânicos e Latinos, os quais foram considerados os profissionais com o menor nível de educação, somente 15% com bacharelado ou acima. Negros e Afro Americanos mesmo com graduação ganham salários inferiores. Assim, como as mulheres recebem menos que os homens em posições semelhantes.
Muitos comentam que não existe diferença entre gêneros e etnias, mas o números falam muita coisa. Entre os trabalhadores em tempo integral no Vale, em 2014, 632 mil eram homens e 443 mulheres e os homens ganham no mínimo 30% a mais que as mulheres para exercer a mesma função. Cada mulher ganha em torno de 0,73 centavos para cada dólar que o homem ganha. No restante do estado ou do país esta diferença é ainda maior, o homem chega a ganhar respectivamente 45% e 55% a mais. Mulheres no geral só recebem mais quando trabalham para organizações sem fins lucrativos ou tem seu próprio negócio. Quando os valores chegam a $1,14 para cada dólar que o homem ganha na mesma posição.
Para tentar contornar a situação o estado da Califórnia criou a legislação SB 358 que exige pagamentos iguais para a mesma posição para qualquer empresa pública ou privada garantindo a igualdade entre gêneros.
Pressão
Quem olha de fora, um lugar repleto de oportunidades e um montão de gente reclamando de barriga cheia. Mas a competitividade é absurda, a pressão é gigante. Os próprios engenheiros de software comentam sobre viver para o trabalho ao invés de trabalhar para viver. Quando questionaram alguns destes profissionais sobre o dia-a-dia, a resposta foi:
Acordar, tomar banho, ficar parado no trânsito por uma hora, chegar no trabalho e não encontrar lugar para estacionar, comer em frente ao computador, trabalhar, almoçar, trabalhar, jantar, trabalhar, mais uma hora de trânsito, dormir, repetir. Sim, o Vale do Silício é fantástico.
Se você trabalha em uma grande empresa é bem provável que não possa pagar para morar perto do trabalho. Se vai para uma startup prepare-se para as expectativas do seu chefe de se dedicar tanto quanto ele para fazer o negócio acontecer.
Não é á toa que lugares e técnicas de meditação tem tornado outro grande business no Vale.
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